13 janeiro, 2011

Traduzir-se

 

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo. 


Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.


Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.



Uma parte de mim 
é permanente:
outra parte se sabe de repente.




Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.




Traduzir-se uma parte
na outra parte
-que é uma questão
de vida ou morte-
será arte?


Ferreira Gullar


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