12 novembro, 2012

Você não sabe de nada.



Escrevo para você, que acha que tenho uma vida perfeita. Vem aqui, deixa eu te contar alguns segredos que talvez nem sejam tão secretos assim. Não sei por qual motivo a gente tem a sensação de que a grama do vizinho é mais verde, que a vida do outro é mais interessante, movimentada, feliz. Todo mundo tem lá suas glórias e deslizes.

Durante muito tempo tive um grave problema para aceitar quem eu era. Talvez fosse medo, covardia, insegurança. Talvez fosse um sentimento sem nome. Talvez fosse essa minha fome exagerada de viver. O fato é que minhas escolhas dizem quem eu sou. E hoje, com mais de 30, me sinto segura ao dizer que fiz certo o que muitos pensaram que era errado.

Eu já sofri muito com os desamores. Me apaixonei por pessoas erradas, me perdi de mim, culpei pessoas por uma infelicidade que morava no meu peito. Que bobagem, o que é nosso é nosso, é maldade jogar nas costas do outro uma coisa que te pertence.

Sofri bullying na escola quando era pequena. Meu rosto cheio de sardas eram motivo de piadinhas fora de hora. Depois eu superei. Perdi alguns amigos, fiz outros. No meio disso tudo descobri que mesmo o teu melhor amigo um dia vai te magoar e te deixar na mão. Faz parte da vida, do aprendizado e da construção da personalidade, afinal, a gente uma hora precisa entender que ninguém é perfeito.

Já me desentendi com familiares e depois de anos fiz as pazes. Já bati muito a porta do meu quarto, quando ainda morava com meus pais. Já briguei com meu pai por motivos fúteis. Já fiz mal criação, já fui mocoronga, já foram mocorongos comigo. E sobrevivi mesmo assim.

Gastei alguns dinheiros na sala do analista e descobri que faz bem e é bom. Mas também percebi que ninguém, ninguém mesmo, te salva. É você e você mesmo. E a gente precisa, sim, urgentemente aprender a conviver com todos os fantasmas que habitam nossa morada interna.

Já quis ser muitas coisas, hoje quero apenas ser quem eu sou e ainda assim me divertir. A vida é muito curta pra ficar de cara amarrada e arrumar problema em cada esquina. Quero mais é ser leve. E livre.

Aprendi que a vida fica bem mais colorida depois que a gente realiza um sonho. E que sonhos são muito, muito poderosos. Se a gente acredita e batalha, eles acabam acontecendo, por mais que demore anos.

Hoje posso dizer que me descubro cada vez mais. E agradeço por isso. A gente precisa se descobrir todo santo dia, de alguma forma, por outro ângulo. Acredito que tudo tem solução, sempre tem uma saída, sempre existe uma perspectiva. E acho que isso me dá força pra seguir em frente quando encontro algum obstáculo. Sei que nada vem de graça, mas acredito que ainda existe uma certa bondade nas pessoas, basta a gente procurar o melhor delas.

Não sou rica, mas vivo bem. Minha conta às vezes fica no vermelho, depois rosa, azul, verde. É um arco-íris. Já magoei e me magoaram. Já perdi quem era importante na minha vida. Já enfrentei doenças e tragédias na minha família. Já pensei que fosse morrer mais de uma vez. Luto diariamente contra uma Síndrome do Pânico e uma psoríase no couro cabeludo, mas entendo que certas coisas acontecem apenas para mostrar o quanto somos valentes. É por isso que não reclamo, aceito e entendo que um dia as coisas vão melhorar.

Demorei vinte e sete anos para encontrar e conhecer o amor. E percebi que ele chegou quando eu estava preparada, calma, serena, sem pressa, sem desespero, sem ânsia. Ele me mostrou que é poderoso e que dois são sempre mais fortes do que um.

Clarissa Corrêa

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