Você acorda pela manhã, e seus primeiros pensamentos não se concentram em uma única pessoa, porém em várias delas e por motivos diversos que não um sorriso ou uma vontade. O dia se arrasta entre compromissos e rotinas, e a sua mente continua focada, sem nenhuma intrusa para bagunçar seus planos de ser promovido no trabalho, correr os 10 km no sábado ou comprar a pasta de dentes que acabou.
Meus parabéns. Você acaba de ser contemplado com um coração vazio. Não que seja algo para ser comemorado, mas o simples fato de não se estar amando romanticamente ou (em menor escala) ter alguma paixãozinha perdida por aí vai ter fazer um bem danado por enquanto.
Já ouviu falar que “o seu tempo é o bem mais precioso que você pode oferecer a alguém”? É uma parte da sua vida que você entrega e que nunca mais terá de volta. E, às vezes, é só com o coração vazio que o merecedor dessa oferta passa a ser você mesmo. As vantagens destas “férias sentimentais” são inúmeras, assim como também são intermináveis as alegrias de se estar apaixonado. E apesar de ser um clichezão, amar e conhecer a si mesmo vai ser a sua maior conquista nesse período.
As músicas novas que você ouve hoje serão as suas músicas “neutras” daqui a alguns anos. Você terá a oportunidade de ter uma playlist que não aperta um botãozinho afetivo aí dentro toda vez que toca. De quebra vai ter uma bela amostra do seu gosto musical sem a influência da emoção.
A sua família passa a te provocar maior interesse. Você descobre que seu irmão tem um ótimo gosto para filmes e que é uma excelente companhia pra um cinema. Começa a ter curiosidade em aprender a cozinhar com sua mãe e a gostar de conversar sobre política com seu pai. Aliás, você também gosta muito de passar um tempo sozinho e até torce o nariz quando tem hóspedes em casa. O som dos seus pensamentos te faz bem, você ama a sua própria companhia.
Aí, então, o mundo parece ficar maior e mais cheio de possibilidades. Seus interesses se ampliam e a rotina vai mudando. Um curso de mergulho, uma aptidão para tocar algum instrumento que antes não te chamava a atenção, uma viagem que, sabe-se lá por quê, você achava que seria o maior programa de índio, mas foi inesquecível. Gente nova aparece, gente velha que não agregava fica pra trás. E ninguém percebeu, nem mesmo você, mas seu coração já está preparado para ser preenchido de novo.
Sua autoconfiança passou a ser admirada, sua personalidade é tão marcante e você é tão autêntico que começou a atrair olhares. Mas será que você quer isso? Provavelmente, não. E você tem escolha? Não, não tem. Em uma quarta-feira qualquer, você vai dormir pensando em um rosto e, ao acordar no dia seguinte – Oh Wait! –, lá está ele de novo. Ela vai rodopiar pela sua planilha de Excel e performar sorrisos encantadores toda vez que você tentar se concentrar. Adeus, foco; adeus, coração vazio.
Ainda bem que, por mais que você tente se blindar, amar é inevitável. E quer um conselho, meu amigo? Agora é a hora de se entregar às tais intermináveis alegrias de se estar apaixonado. Se você foi um bom aluno da vida, aprendeu direitinho que, independente de cheio ou vazio, seu coração te pertence e o seu tempo deve ser divido com quem realmente vai saber investir nele.
Raquel Ernesto.
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