Mulheres.
"- Fui pro meu carro, dei partida. Botei a primeira. Não andou. Botei a segunda. Nada. Botei de novo a primeira. Verifiquei se tava desbrecado. Não andou. Botei a marcha ré. O carro andou pra trás. Brequei e botei a primeira de novo. Não andou. Ainda estava muito puto com Lydia. Pensei, bom, vou dirigindo essa porra de marcha ré até em casa. Daí imaginei os guardas me parando pra me perguntar que merda eu tava fazendo. Bem, senhores agentes da lei, tive uma briga com a minha garota e esse foi o único jeito de voltar pra casa.
Já não estava me sentindo puto com Lydia. Desci do carro, fui até a sua porta. Ela tinha recolhido a cabeça. Bati.
Lydia abriu a porta.
-Escuta -disse- não sabia que você era bruxa.
-Bruxa não, vaca. Cê não lembra?
-Você tem que me levar pra casa. Meu carro só anda pra trás. Aquela porra tá enfeitiçada.
-Cê tá falando sério?
-Vem cá, vou te mostrar.
Lydia me seguiu até o carro. O câmbio tava funcionando direito. Agora o carro só anda pra trás. Tava a ponto de voltar pra casa daquele jeito mesmo.
Entrei no carro.
-Olha só.
Liguei o motor, botei a primeira, soltei a embreagem.
O carro deu um pulo pra frente. Botei a segunda. Foi indo em segunda, cada vez mais rápido. Botei a terceira. Foi indo numa boa. Dei meia volta e estacionei do outro lado da rua. Lydia atravessou.
-Olha -disse eu-, você tem que me acreditar. Há um minuto o carro só andava pra trás. Agora tá legal. Juro por Deus.
-Acredito em você -disse ela- Isso é coisa de Deus. Acredito nessas coisas.
-Isso deve significar alguma coisa.
-Claro que significa.
Saí do carro. Fomos pra casa dela.
-Tire a camisa e os sapatos -disse ela- e deite na cama. Quero primeiro espremer seus cravos."
Charles Bukowski
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