Tudo o que lhe peço, Tempo, é que me salve do meu coração.
Dessa entrega absurda de ir até o outro e me deixar sem mim.
O que lhe peço, Tempo, é o caminho do meio.
Aprender a receber antes de me entregar.
Ver além.
Peço que me devolva a mim mesma.
Que eu me reconheça e me acolha.
Me aqueça em meus buracos escuros e definitivamente me toque.
Que eu saiba cuidar somente do que me cabe.
E deixe ir.
E deixe vir.
Natural, inteira e suavemente.
Que a vida me encontre distraída, sem a ânsia de buscar o que não sei.
O que não vale.
O que não é.
O que lhe peço, Tempo, é a aceitação do tempo e da vida como ela é.
Sei que ela me aguarda plena e legítima.
Mostre a ela o caminho até mim.
Enquanto isso, me adormeça em paz até que a verdade me alcance como um beijo.
Tire de mim essa ânsia de ser feliz, inverta a ordem das coisas e assopre no ouvido da alegria o momento de me capturar sem volta.
Que eu me aquiete na paz do merecimento, sem dar um passo ou um pio.
Que apenas contemple.
Que eu resista à tentação de correr para o que ainda não está pronto.
Que eu me apronte para a surpresa de um dia simples.
Que eu acorde como quem nasce.
Amém.
Cris Guerra
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