17 agosto, 2014

Amor inútil



Quando o amor é inútil. Quando você entrega sua vida, sua casa, sua paixão, seu tempo, ainda é inútil. Quando você muda sua personalidade, fica silencioso, mata a ansiedade, ainda é inútil. Quando você responde alto e se envaidece da passionalidade, ainda é inútil. Quando você engole a razão, cospe o perdão, ainda é inútil. Quando você emagrece, quando você engorda, quando você some, ainda é inútil. Quando você se arruma para provocar ciúme, ainda é inútil. Quando você avisa de cada passo e de cada palavra, ainda é inútil. Quando você fuma, para de fumar, bebe, para de beber, ainda é inútil. Quando você só elogia, só descreve momentos bons, ainda é inútil. Quando você só critica, reclama das tristezas, ainda é inútil. Quando você faz graça para aliviar a tensão, ainda é inútil. Quando você mantém pose de sério, ainda é inútil. Quando você não mente mais, é direto e óbvio, ainda é inútil. Quando você é fantasioso e exagerado, ainda é inútil.

Não aprendeu a lição: inútil. Quando você adivinha, deveria perguntar. Quando você pergunta, deveria adivinhar. Portanto, inútil, inútil. Será sempre inútil.

Quando você é submisso, ainda é inútil. Quando você é vingativo, ainda é inútil. Quando você não discute, espera o tempo acalmar, ainda é inútil. Quando você briga para ganhar uma declaração, ainda é inútil. Quando você viaja para procurar lembranças felizes, ainda é inútil. Quando você lembra o início do namoro, ainda é inútil. Quando você se imagina envelhecendo junto, ainda é inútil. Quando você esconde sua resignação, reprime a saudade do sexo, ainda é inútil. Quando você grita por companhia, pede beijo e abraço, ainda é inútil. Quando você chora, toma banho no escuro, ainda é inútil.

Quando você se vê cheio de esperança, arruma surpresa, compra presentes, ainda é inútil. Porque a esperança é também só sua. A fé é também só sua.

Quando você planeja casa, sonha com filhos, ainda é inútil. Quando você desiste dos planos para viver um dia de cada vez, ainda é inútil. Quando você se separa para acordar a relação e nada vem, nada tem importância, nada pode ser feito, ainda é inútil. Quando você chama de volta, junta os pedaços, cola as fotos, ainda é inútil.

Amor inútil. Tudo o que não é suficiente é inútil. Será inútil.


Fabrício Carpinejar

18 julho, 2014

Reverbera-te



O silêncio não coube
em um metro e noventa
e quatro de mim.
reverberou nas paredes
da sala e voltou na forma
de poema.

é assim que o dia nasce
quando a noite nos traz 
seus problemas.

o silêncio já não cabe
em teus olhos.

reverbera-te!

Severino

10 julho, 2014



Vontade de me apaixonar, de ser vencida por um olhar,
de ser roubada por uma mão que me pega na cintura,
de ver alguém me descobrindo com ar de surpresa,
de perder o raciocínio para o pensamento em alguém,
de não enxergar distância entre os dois lados da cidade,
de me arrumar por algum motivo a mais que o trabalho,
de ter disposição para encontrar músicas novas,
de ler uma poesia e saber que seria possível vivê-la,
de encontrar alguma graça em passar pelo domingo,
vontade de ser encontrada em uma multidão de vazios,
vontade de que fosse agora e para sempre.
Preciso te achar desesperadamente
e é tão pouco e quase próximo...
o que nos separa são os encontros.

Cáh Morandi

08 julho, 2014



Talvez eu tenha cansado de conhecer e desconhecer pessoas. Talvez eu tenha cansado de ter que ficar redescobrindo a confiança naqueles que me circulam. Hoje só quero paz, tranquilidade e risos sinceros. Na verdade, quero tudo sincero, é só disso que preciso. Você e sua sinceridade. O resto, a gente decide amanhã no café da manhã.

Frederico Elboni

28 junho, 2014

Sobre você



Sobre você, eu espero ou esqueço? Compareço ou desapareço?
Confio ou coloco as barbas de molho? Acredito, arrisco, entrego tudo ou apenas observo o andar da carruagem?
Sobre você, eu tenho um punhado de incertezas, escrevi um tantão de poesias, conheci detalhes impressionantes e por eles mergulhei a cara na lua, como um ato insano. 
Sobre você, eu guardo as histórias dos vendavais que enfrentei para depois descansar por uns minutos na calmaria dos abraços ofertados. Guardo a rima da canção, o cheiro amadeirado no ar e a angústia das esperas que me fizeram esfriar as mãos e dizimar a minha tranquilidade interna.
Tudo sobre você, é quase uma multidão de outros humanos arrancando fortes alegrias que eu consumi com todo gosto. Sobre você, tem ainda a poesia no rodapé do caderno, cuja inspirada efervescência, surgiu nos dias mais escuros. Tome nota disso e diga-me o que faltou eu saber sobre você.
E sobre você, o que é capaz de causar em mim? Inquietação, angústia, impaciência.
Disseram que são sintomas de sua importância e eu bestamente não soube lidar.
Sobre você havia um perigo incrível, o dilema de uma atração sem pressa pra acabar.
Sobre você havia ainda uma necessidade inata. A lei da gravidade que nunca me deixou ir de uma vez por todas. Um imprevisto sedutor. Vagarosas e insinuantes vontades
Sobre você que não houve rompimento, promoções explosivas de afeto, nem promessas de continuar.
Sobre você que não posso tocar, ainda é pra esperar? 


Ita Portugal

21 junho, 2014

NÃO DECIDIR É UMA GRANDE DECISÃO



Desejamos ter o controle dos fatos, mandar no curso dos acontecimentos, demonstrar poder e se antecipar ao pior. Mas, em alguns momentos, não decidir é a melhor decisão que a gente pode tomar. 

Decidir nem sempre nos ajuda. Decidir pode ser burrice, não independência. Decidir pode expressar o nosso egoísmo e vamos nos arrepender logo em seguida. Decidir pode ser a ânsia de se livrar daquela chatice, daquela adversidade. Decidir pode ser apenas desistir.

Não custa nada esperar dois dias, tenta entender por que está sentindo tanta raiva, amadurecer a opinião para não se machucar e não machucar ninguém, cicatrizar o mal-estar com silêncio. Não custa nada levar o assunto para roda dos amigos, para o terapeuta, ouvir o conselho de quem já passou por situações parecidas.

O mais difícil na vida não é jogar a pedra, mas manter a pedra no chão.


Carpinejar.

15 junho, 2014


"Quando Alice estava tomando chá com o Chapeleiro Louco, ela notou que não havia geléia. Pediu, então geléia, e ele disse:”A geléia é servida dia sim, dia não. ”Alice reclamou: ”Mas ontem também não havia geléia!” ‘Isso mesmo’ respondeu o Chapeleiro Louco. ’A regra é esta: geléia sempre ontem e geléia amanhã, nunca geléia hoje…porque hoje não é ontem nem amanhã.
E é assim que você está vivendo: geléia ontem, geléia amanhã, nunca geléia hoje. E é aí que está a geléia! Assim você imagina; você vive em um estado dopado, sonolento. Você esqueceu completamente que este momento é o único momento real. E, se quiser algum contato com a realidade, acorde aqui e agora!"
Livro “O homem que amava as gaivotas" – Osho

14 junho, 2014

O que é poesia?



"O que é poesia?" O menino me perguntou.
"Poesia é a forma diferente de olhar as coisas."
Eu perguntei:
"o que tem em minhas mãos?"
"Água." Todos responderam.
Perguntei de novo:
"o que tem nas minhas mãos?"
"água."
Perguntei mais uma vez, só que desta vez alguém lá no fundo disse:
"mar"
do outro lado alguém disse
"Chuva"
"enchente"
"lágrimas"
"Vida"
"suor"
"refrigerante"
"suco"
"banho"
etc.
etc.
etc.
Aí, eu disse:
"Pera lá, mas agora pouco não era só um copo de água?"
"ha, ha, ha, ha, ha, ha..."
E todos nós rimos como se a dor não existisse.
E a água da poesia quase afogou meus olhos.
O Coração já tinha transbordado há muito tempo.'

Poeta Sérgio Vaz