Homem se apaixona fácil, o que ele tem medo é de amar.
Mulher não se apaixona fácil, mas não tem medo de amar.
São dois fusos diferentes. São duas realidades em desacordo.
Homem logo se entrega para um relacionamento, não mede esforços para ficar com alguém, renuncia sua vida e seus prazeres mais essenciais, altera sua rotina. Na paixão, sua generosidade é corajosa. Facilita as saídas aos bares e restaurantes, facilita a intimidade na casa, facilita o arrebatamento. Nada incomoda, nada atrapalha, nenhum defeito é contabilizado.
Sua complicação é quando passa a amar, quando larga a fase da aventura e do desconhecimento dos meses iniciais para fazer plano junto. Daí ele estaciona, emperra. Tanto que sofre horrores para dizer o primeiro eu te amo. Tanto que sofre horrores para misturar as escovas de dente. Tanto que sofre horrores para dividir as prateleiras. É como se não pensasse até aquele momento.
Na paixão, ele não avalia as separações anteriores, suas falhas de sistema, suas fobias de convivência. Explode por intuição, desmemoriado. É vir o amor que ele recua, entra em julgamento, contrai o olhar e economiza as palavras. É consolidar os laços que se confunde, acumula receios e inventa desculpas.
A mulher é exatamente o contrário, e bem mais coerente. Leva tempo para se apegar, questiona de saída, é desconfiada na paixão, cética na paixão, contida na paixão. Sofre passo a passo. Empenha malha fina da personalidade na apresentação. Sua instabilidade é de imediato, sua crise de consciência é no começo. Quando descobre que gosta realmente, é que se liberta e derruba suas defesas. É realizar projetos e formular expectativas que se solta e se desinibe. Para ela, o amor acontece mais natural do que a paixão. Paixão é choque, dói; amor é costume, cicatriza.
Homem diz “Não quero me envolver”. A mulher diz “não quero me apaixonar”. As declarações são representativas. Ele recusa intimidade após o contato, ela pretende evitar qualquer contato, já que a intimidade não a assusta.
Homem mergulha para reclamar da água. A mulher experimenta a água antes de entrar.
Homem tem primeiro certeza para depois duvidar. A mulher duvida até cansar sua cautela.
Homem oferece tudo para retirar gradualmente. A mulher esconde tudo para oferecer aos poucos.
Homem se mostra desembaraçado e, em seguida temeroso. Mulher se apresenta temerosa e, em seguida, desembaraçada.
Homem decide rápido para desmanchar lentamente sua convicção. Mulher demora a se decidir, mas não volta atrás.
Homem é paixão. Mulher é amor.
Carpinejar!
Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 16/03/2014 Edição N° 17734
pretty nice blog, following :)
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