24 fevereiro, 2013

Atalhos...


Quanto tempo a gente perde na vida? Se somarmos todos os minutos jogados fora, perdemos anos inteiros. Depois de nascer, a gente demora pra falar, demora pra caminhar, aí mais tarde demora pra entender certas coisas, demora pra dar o braço a torcer. Viramos adolescentes teimosos e dramáticos. Levamos um século para aceitar o fim de uma relação, e outro século para abrir a guarda para um novo amor, e já adultos demoramos para dizer a alguém o que sentimos, demoramos para perdoar um amigo, demoramos para tomar uma decisão. Até que um dia a gente faz aniversário. 37 anos. Ou 41. Talvez 48. Uma idade qualquer que esteja no meio do trajeto. E a gente descobre que o tempo não pode continuar sendo desperdiçado. Fazendo uma analogia com o futebol, é como se a gente estivesse com o jogo empatado no segundo tempo e ainda se desse ao luxo de atrasar a bola pro goleiro ou fazer tabelas desnecessárias. Que esbanjamento. Não falta muito pro jogo acabar. É preciso encontrar logo o caminho do gol.
Sem muita frescura, sem muito desgaste, sem muito discurso. Tudo o que a gente quer, depois de uma certa idade, é ir direto ao assunto. Excetuando-se no sexo, onde a rapidez não é louvada, pra todo o resto é melhor atalhar. E isso a gente só alcança com alguma vivência e maturidade.
Pessoas experientes já não cozinham em fogo brando, não esperam sentados, não ficam dando voltas e voltas, não necessitam percorrer todos os estágios. Queimam etapas. Não desperdiçam mais nada.
Uma pessoa é sempre bruta com você? Não é obrigatório conviver com ela.
O cara está enrolando muito? Beije-o primeiro.
A resposta do emprego ainda não veio? Procure outro enquanto espera.
Paciência só para o que importa de verdade. Paciência para ver a tarde cair. Paciência para sorver um cálice de vinho. Paciência para a música e para os livros. Paciência para escutar um amigo. Paciência para aquilo que vale nossa dedicação.
Pra enrolação... atalho.


Martha Medeiros.

21 fevereiro, 2013

Lúcida na minha loucura...



“Eu sou lúcida na minha loucura, permanente na minha inconstância, inquieta na minha comodidade.
Pinto a realidade com alguns sonhos, e transformo alguns sonhos em cenas reais.
Choro lágrimas de rir e quando choro pra valer não derramo uma lágrima.
Amo mais do que posso e, por medo, sempre menos do que sou capaz. Busco pelo prazer da paisagem e raramente pela alegre frustração da chegada. Quando me entrego, me atiro e quando recuo não volto mais. Mas não me leve a sério, sei que nada é definitivo. Nem eu sou o que penso que eu sou. Nem nós o que a gente pensa que tem.
Prefiro as noites porque me nutrem na insônia, embora os dias me iluminem quando nasce o sol. Trabalho sem salário e não entendo de economizar. Nem de energia. Esbanjo-me até quando não devo e, vezes sem conta, devo mais do que ganho. (...) fumo pra enganar a ansiedade e não aposto em jogo de cartas marcadas. Penso mais do que falo. E falo muito, nem sempre o que você quer saber. Eu sei. Gosto de cara lavada — exceto por um traço preto no olhar — pés descalços, nutro uma estranha paixão por camisetas velhas e sinto falta de uma tatuagem no lado esquerdo das costas.
Mas há uma mulher em algum lugar em mim que usa caros perfumes, sedas importadas e brilho no olhar, quando se traveste em sedução.
Se você perceber qualquer tipo de constrangimento, não repare, eu não tenho pudores mas, não raro, sofro de timidez. E note bem: não sou agressiva, mas defensiva. Impaciente onde você vê ousadia. Falta de coragem onde você pensa que é sensatez.
Mas mesmo assim, sempre pinta um momento qualquer em que eu esqueço todos os conselhos e sigo por caminhos escuros. Estranhos desertos. E, ignorando todas as regras, todas as armadilhas dessa vida urbana, dessa violência cotidiana, se você me assalta, eu reajo”.
 Sou uma mulher madura, que às vezes brinca de balanço, sou uma criança insegura, que às vezes anda de salto alto

Martha Medeiros

17 fevereiro, 2013

Sei



Sabe, quando a gente tem vontade de encontrar 
A novidade de uma pessoa 
Quando o tempo passa rápido 
Quando você está ao lado dessa pessoa 
Quando dá vontade de ficar nos braços dela 
E nunca mais sair 

Sabe, quando a felicidade invade 
Quando pensa na imagem da pessoa 
Quando lembra que seus lábios encontraram 
Outros lábios de uma pessoa 
E o beijo esperado ainda está molhado 
E guardado ali... 

Em sua boca 
Que se abre e sorri feliz 
Quando fala o nome daquela pessoa 
Quando quer beijar de novo muitos lábios 
Desejados da sua pessoa 
Quando quer que acabe logo a viagem 
Que levou ela pra longe daqui 

Sabe, quando passa a nuvem brasa 
Arde o corpo, sopro do ar que trás essa pessoa 
Quando quer ali deitar, se alimentar 
E entregar seu corpo pra pessoa 
Quando pensa porque não disse a verdade 
É que eu queria que ela estivesse aqui 

Sei, eu sei 


Nando Reis

13 fevereiro, 2013

Perhaps love - Talvez o amor



"Talvez o amor seja um lugar de descanso, um abrigo contra a tempestade.
Ele existe para te dar conforto, está lá pra te manter aquecido.
E naqueles momentos problemáticos, quando você está muito sozinho.
A memória do amor vai te trazer para casa.
Talvez o amor seja uma janela, talvez uma porta aberta.
Ele te convida para chegar mais perto, ele quer te mostrar mais.
E mesmo que você se perca e não saiba o que fazer.
A memória do amor vai ver você por dentro.
Amor para alguns é como uma nuvem, para outros forte como aço.
Para alguns um modo de vida, para outros um sentimento.
E alguns dizem que o amor é prender e outros dizem que é soltar.
E alguns dizem que o amor é tudo e outros dizem que não sabem.
Talvez o amor seja um oceano, cheio de conflitos, cheio de dor.
Como um fogo quando está frio lá fora, trovão quando chove.
Se eu tivesse que viver para sempre e todos os meus sonhos se tornassem realidade.
Minhas memórias de amor seriam suas."

Tradução de "Perhaps love" John Denver

Feliz!




Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre me falava que felicidade era essencial na vida. Quando estava na escola, eles me perguntaram o que gostaria de ser quando crescesse. Escrevi: "FELIZ". Eles me disseram que eu não tinha entendido a tarefa, e eu disse a eles que eles não tinham entendido a VIDA!

Chico Xavier

08 fevereiro, 2013

Espatódea



Minha cor
Minha flor
Minha cara
Quarta estrela
Letras, três
Uma estrada
Não sei se o mundo é bom
Mas ele está melhor
desde que você chegou
E perguntou:
Tem lugar pra mim?
Espatódea
Gineceu
Cor de pólen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Não sei se esse mundo é bom
Mas ele está melhor
Porque que você chegou
E explicou o mundo pra mim
Não sei se esse mundo está são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoé
Espatódea
Gineceu
Cor de pólen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Não sei quanto o mundo é bom
Mas ele está melhor
Porque que você chegou
E explicou o mundo pra mim
Não sei se esse mundo está são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoé
Espatódea
Gineceu
Cor de pólen
Sol do dia
Nuvem branca
Sem sardas
Não sei quanto o mundo é bom
Mas ele está melhor
Porque que você chegou
E explicou o mundo pra mim
Não sei se esse mundo está são
Mas pro mundo que eu vim já não era
Meu mundo não teria razão
Se não fosse a Zoé.
Nando Reis

06 fevereiro, 2013

Abençoadas sejam...


"Abençoadas sejam as surpresas risonhas do caminho. As beleza que se mostram sem fazer suspense. As afeições compartilhadas sem esforço. As vezes em que a vida nos tira pra dançar sem nos dar tempo de recusar o convite. As maravilhas todas da natureza, sempre surpreendentes, à espera da nossa entrega apreciativa. A compreensão que floresce, clara e mansa, quando os olhos que veem são da bondade. Abençoados sejam os presentes fáceis de serem abertos. Os encantos que desnudam o erotismo da alma. Os momentos felizes que passam longe das catracas da expectativa. Os improvisos bons que desmancham o penteado arrumadinho dos roteiros da gente. Os diálogos que acontecem no idioma pátrio do coração. Abençoada seja a leveza, meu Deus. Abençoadas sejam as dádivas generosas que vêm nos lembrar que viver pode ser mais fácil. Que amar e ser amado pode ser fuido. Que dá pra girar o dial. Que dá pra sair da frequência da escassez e sintonizar a estação da disponibilidade, onde alegrias já cantam, mas a gente não ouve. Abençoadas sejam as dádivas que vêm nos lembrar, com alívio, que há lugares de descanso para os nossos cansaços. Que há lugares de afrouxamento para os nossos apertos. Que dá pra mudar o foco. Que não é tão complicado assim saborear a graça possível que mora em cada instante. Abençoados sejam as dádivas generosas que nos surpreendem. Elas não sabem o quanto às vezes, tantas vezes, nos salvam de nós mesmos."

Ana Jácomo