20 fevereiro, 2014

A paixão não pele licença



Eu disse “sim” ao inevitável. Eu disse “sim” ao imprevisível. Só disse “não” para as tentativas de tentar controlar variáveis imprevisíveis como as do coração e para o medo que só serve como uma âncora que nos enraíza em águas falsamente seguras e sem sal.

Ricardo Coiro em: A paixão não pele licença.

O texto completo: http://www.revistacatwalk.com.br/a-paixao-nao-pede-licenca/

14 fevereiro, 2014

Soneto 35.


Não chores mais o erro cometido; Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho; O sol no eclipse é sol obscurecido; Na flor também o inseto faz seu ninho;
Erram todos, eu mesmo errei já tanto, Que te sobram razões de compensar Com essas faltas minhas tudo quanto Não terás tu somente a resgatar;
Os sentidos traíram-te, e meu senso De parte adversa é mais teu defensor, Se contra mim te excuso, e me convenço
Na batalha do ódio com o amor: Vítima e cúmplice do criminoso, Dou-me ao ladrão amado e amoroso.
William Shakespeare

09 fevereiro, 2014

Liga da justiça - Arte de Fatturi



Os homens só confessam seus problemas aos amigos quando a casa caiu, quando o casamento desmoronou, quando o fim está sacramentado.

Nada mais pode ser feito, estão oficializando a notícia.

Os amigos são solicitados para socorrer a fossa, não como prevenção da dor; são requisitados para beber as mágoas: dividir o uísque da solidão, a cerveja do desamparo, o conhaque do ressentimento.

Muito distinto do ritmo feminino, que presta uma consultoria permanente às amigas durante os atritos do casamento.

O homem procura seu amigo para esquecer um amor rompido, a mulher procura sua amiga para salvar o amor em apuros.

Sim, por que você acha que sua mulher discute tão bem, tão senhora de si?

Ela está preparada para a DR, recapitulou o que precisava dizer e como dizer com suas amigas, levantou os pontos negativos e os positivos das exigências, assimilou o contraditório com a versão e experiência de suas confidentes.

Na refrega sentimental, ela antecipa suas respostas, não é verdade?

Ela desarma suas opiniões, não é verdade?

Não fica impressionado com o poder e a velocidade do raciocínio dela, o quanto é adulta e equilibrada, enquanto você, do outro lado, espuma raiva, infantilidade e insegurança?

É que ela teve a humildade de pedir opinião para suas colegas, com o objetivo de evitar injustiças. Formou um ibope das diferenças e das dificuldades e carrega as informações privilegiadas para dentro de sua casa.

Não é curioso que antes de uma conversa séria sua esposa ou namorada tenha saído com as melhores amigas na noite anterior?

Elas treinaram o discurso do qual seria vítima. Vírgula por vírgula. Ponto por ponto.

Sua cara-metade chega para o papo com uma oratória de Angela Merkel, uma firmeza de Oprah. É impossível contê-la.

Compreenda que uma mulher jamais toma alguma decisão sozinha. Ela é uma multidão. Ela é um conselho de leitor. Ela é uma reunião ministerial.

São três ou quatro mentalidades pensando ao mesmo tempo em sua cabeça. É como jogar xadrez com um computador. Não tem chance. O que ela fala é absolutamente lindo, honesto, real, comovente, por várias perspectivas. O que resta fazer é pedir desculpa, mesmo que desprovido de culpa.

Já fiquei abobado em várias DRs, exclamando para mim mesmo: – Como ela domina nosso relacionamento, como tem consciência de tudo!

Minha vontade era cumprimentá-la, elogiar o desempenho, assim como um time juvenil leva goleada de uma equipe profissional e ainda quer autógrafos ao final.

Hoje absorvi a lição. Nunca mais o amadorismo. Não brigo com a minha esposa sem antes consultar meus comparsas Éverton e José Klein. Formamos a Liga de Justiça. Meus improvisos são bem ensaiados.

Publicado no jornal Zero Hora
Revista Donna, p.6
Porto Alegre (RS), 09/02/2014 Edição N° 17699



Fabrício Carpinejar