20 novembro, 2011

Quero apenas cinco coisas...



‎"Quero apenas cinco coisas...

Primeiro é o amor sem fim


A segunda é ver o outono


A terceira é o grave inverno


Em quarto lugar o verão


A quinta coisa são teus olhos


Não quero dormir sem teus olhos.


Não quero ser... sem que me olhes

.
Abro mão da primavera para que continues me olhando"

Pablo Neruda

13 novembro, 2011

Desejo


Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.

Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconsequentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar

E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo

Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem

Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar

Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar

E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar

05 novembro, 2011

Esvaziamos?




"Eu sou assim meio... sem escrúpulos, mesmo", diz o pitéu siliconado à sua frente no bar. Entre goles de vodca com suco de laranja, ela conclui isso depois contar um patife episódio que envolveu falar no celular com o namorado enquanto um acionado ex descansava no travesseiro ao lado. 


"Escrup... o quê?", você sorri, se solidarizando.

A admissão do escrúpulo zero da moça muito mais comove que espanta. A maioria das pessoas não tem coragem de ouvir palavras assim saindo do próprio gogó.

Ou tem?

Outros bares, outras mulheres – quase sempre siliconadas. "É difícil eu me apegar a alguém", "Você sabe, sempre fui mais fria", "Não me vejo mais namorando" etc. Aos poucos, a polifonia das declarações compõe uma intrigante melodia. Não viveríamos a verdadeira era do gelo, o "amor nos tempos do messenger, espécie miojo sentimental, emoções baratas", como escreveu o ídolo da Naipe Xico Sá?

Talvez. Mas é sempre bom evitar exageros.

"Você poderia ser pior?"
Fraca a carne sempre foi. Frias e desapegadas muitas pessoas (ou todas, em algum sentido) também sempre foram. O que talvez seja mais ou menos novo seja a falta de estímulo para remar contra isso  em nome não de caretice ou moral nenhuma, mas de um benefício que ignoramos cada vez mais. Lembram que Gabriel García Marquéz chamou a galinhagem de "a forma mais árida de solidão", e Vinícius de Moraes, o amor de "a verdadeira malandragem"?

Aos oito meses de namoro você pode acordar um pouco enjoado da pessoa ao lado. A partir disso, a tendência agora é já terminar ou avacalhar o relacionamento. Perdemos aí a chance de, passados mais vários meses, uma outra manhã nos darmos conta do quanto aquela pessoa melhorou nossa vida; o quanto felizmente compartilha cada vez mais coisas conosco; o quanto nos deixa à vontade e, estando acima de todas as outras, tirou nosso cotidiano do chão.

Ao ouvir qualquer coisa ligada a sossego e namoro, tem gente que acha que você está de sacanagem. Sendo a bagunça toda tão boa, tão divertida a aleatoriedade toda, por que se deveria namorar, mesmo?

As boas intenções são as piores. Saia para jantar bem intencionado com uma mulher e talvez você leia nos olhos de muitas delas o pedido: "Você poderia ser um pouco pior comigo?"

Reencontrando algumas mulheres que não via há anos  o pitéu siliconado do primeiro parágrafo inclusive  lembrei do processo de pausterização do leite. Os namoros que elas tiveram entre os 16 e os 20 e tantos, justamente por terem sido bons, elevaram suas expectativas amorosas. Como mesmo os melhores namoros acabam, a temperatura baixou bruscamente e matou tudo que elas esperavam de alguém.

Disso tudo, sobra o miojo sentimental, que também não é esse apocalipse todo. Na galinhagem e individualidade, me parece, todo mundo mais ou menos se merece e entende.


Por Thiago Momm

02 novembro, 2011

A melhor mãe do mundo



Você é. Sua vizinha também. A Maitê. A Malu. A Claúdia. Eu, naturalmente. Somos as melhores mães do mundo. Aliás, essa é a única categoria em que não há segundo lugar, todas as mães são campeãs, somos bilhões de "as melhores" espalhadas pelo planeta. Ao menos, as melhores para os nossos filhos, que nunca tiveram outra.

Não é uma sorte ser considerada a melhor, mesmo se atrapalhando tanto? Mãe erra, crianças. E improvisa. Mãe não vem com manual de instrução: reage apenas aos mandamentos do coração, o que tem um inestimável valor, mas não substitui um bom planejamento estratégico. E planejamento é tudo o que uma mãe não consegue seguir, por mais que livros, revistas e psicólogos tentem nos orientar.

Um dia um exame confirma que você está gravida e a felicidade é imensa e o pânico também. Uau, vou ser responsável pela criação de um ser humano! A partir daí, nunca mais a vida como era antes. Nunca mais a liberdade de sair pelo mundo sem dar explicações a ninguém. Nunca mais pensar em si mesma em primeiro lugar. Só depois que eles fizerem dezoito anos, e isso demora. E às vezes nem adianta.

O primeiro passo é se acostumar a ser uma pessoa que já não pode se guiar apenas pelos próprios desejos. Você continuará sendo uma mulher ativa, autêntica, batalhadora, independente, estupenda, mas cem por cento livre, esqueça. De maridos você escapa, dos próprios pais você escapa, mas da responsabilidade de ser mãe, jamais. E nem você quer. Ou será que gostaria?

De vez em quando, sim, gostaríamos de não ter esse compromisso com vidas alheias, de não precisar monitorar os passos dos filhotes, de não ter que se preocupar com a violência que eles terão que enfrentar, de não sofrer pelas dores-de-cotovelo deles, de não temer por suas fragilidades, de não ficar acordada enquanto eles não chegam e de não perder a paciência quando eles fazem tudo ao contrário do que sonhamos.

Gostaríamos que eles não falassem mal de nós nos consultórios dos psiquiatras, que eles não nos culpassem por suas inseguranças, que não fôssemos a razão de seus traumas, que esquecessem os momentos em que fomos severas demais e que nos perdoassem na vezes em que fomos severas de menos. Há sempre um "demais" e um " de menos" nos perseguindo. Poucas vezes acertamos na intensidade dos nossos conselhos e críticas.

Mas é assim que somos: às vezes exageradamente enérgicas em momentos bobos, às vezes um tantinho ..na hora de impor limites. A gente implica com alguns amigos deles e adora outros e não consegue explicar por quê, mas nossa intuição diz que estamos certas. Mas de que adianta estarmos certas se eles só se darão conta disso quando tiverem os próprios filhos?

Erramos em forçá-los a gostar de aipo, erramos em agasalhá-los tanto para as excursões do colégio, erramos em deixar que passem a tarde no computador em véspera de prova, erramos em não confiar quando eles dizem que sabem a matéria, erramos em nos escabelar porque eles estão com olhos vermelhos (pode ser só resfriado), erramos quando não os olhamos nos olhos, erramos quando fazemos drama por nada, erramos um pouquinho todo dia por amor e por cansaço.

O que nos torna as melhores mães do mundo é que nossos erros serão sempre acertos, desde que estejamos por perto. 

Martha Medeiros