10 novembro, 2013

Oração ao tempo.



Tudo o que lhe peço, Tempo, é que me salve do meu coração. 
Dessa entrega absurda de ir até o outro e me deixar sem mim. 
O que lhe peço, Tempo, é o caminho do meio. 
Aprender a receber antes de me entregar. 
Ver além. 
Peço que me devolva a mim mesma. 
Que eu me reconheça e me acolha. 
Me aqueça em meus buracos escuros e definitivamente me toque. 
Que eu saiba cuidar somente do que me cabe. 
E deixe ir. 
E deixe vir. 
Natural, inteira e suavemente. 
Que a vida me encontre distraída, sem a ânsia de buscar o que não sei. 
O que não vale. 
O que não é. 
O que lhe peço, Tempo, é a aceitação do tempo e da vida como ela é. 
Sei que ela me aguarda plena e legítima. 
Mostre a ela o caminho até mim. 
Enquanto isso, me adormeça em paz até que a verdade me alcance como um beijo. 
Tire de mim essa ânsia de ser feliz, inverta a ordem das coisas e assopre no ouvido da alegria o momento de me capturar sem volta. 
Que eu me aquiete na paz do merecimento, sem dar um passo ou um pio. 
Que apenas contemple. 
Que eu resista à tentação de correr para o que ainda não está pronto. 
Que eu me apronte para a surpresa de um dia simples. 
Que eu acorde como quem nasce. 
Amém.

Cris Guerra

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